quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CURSO DE HISTÓRIA: 5 AULA - PROFESSOR-PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO HISTÓRICA






INTRODUÇÃO

por OSVALDO MARIOTTO CEREZER
Formação de Professores e Ensino de História: Perspectivas e Desafios

Falar em formação docente e ensino de História na atual conjuntura sócio/histórico brasileira significa refletir sobre a dinâmica social e a sua relação direta com o processo de formação e atuação profissional do professor, pois esta dinâmica, composta pelas questões sociais, políticas, econômicas, culturais, pelos conflitos e contradições, pelas rupturas, pelas lutas de classes, etc. estão diretamente ligadas ao processo de formação do alunado que as escolas recebem e que os professores se relacionam na sua prática pedagógica diária.
Abordar essas questões, compreendendo-as como resultado da dinâmica social, significa tocar no âmago dos inúmeros problemas que a educação brasileira vem vivenciando cada vez com maior intensidade.
Na atual conjuntura educacional, não é mais possível continuar vendo a escola como um campo de atuação das manifestações culturais dominantes, uma vez que a escola tem como principio básico a formação dos cidadãos nas suas concepções mais amplas e democráticas, pois vivemos numa sociedade em que as manifestações políticas e culturais são múltiplas e variadas e, nesse contexto, se faz necessário a construção de uma prática pedagógica que privilegie as diferenças existentes no próprio ambiente de sala de aula.
As diferenças existentes são produto de uma sociedade culturalmente multifacetada e permeada pelas mais diversas realidades sociais, fruto de um contexto histórico construído sobre alicerces sociais discriminatórios e excludentes, onde os valores das camadas dominantes sempre estiveram em primeiro plano, impedindo a construção de uma sociedade fundada na diversidade e na democracia.
Para Vasconcelos: A compreensão desse processo histórico nos aponta para a necessidade de alterar a situação até hoje existente, no sentido de colocar-se a serviço dos interesses das camadas e de um projeto de transformação social. (VASCONCELOS, 2005:117).
Nesse processo, o professor de História ocupa posição central na análise dessa conjuntura e na possibilidade de construir situações concretas de superação através da prática pedagógica por ele desenvolvida no interior do espaço escolar. Essa superação não deve ser um trabalho solitário ou anônimo, mas fundamentado na construção de um trabalho que envolva o coletivo escolar, principalmente o corpo docente, através de um trabalho de conscientização dos mesmos sobre a importância e o poder da ação pedagógica por eles desenvolvida em seu cotidiano. Assim, através de um trabalho coletivo, as possibilidades de avanço e sucesso desse empenho obterão resultados mais consistentes.
Historicamente, a prática educativa esteve condicionada pelo contexto histórico e a escola como “representante oficial” dos interesses dominantes. A superação dos problemas didáticos e metodológicos deve ser uma preocupação constante do professor de História, pois as mesmas são vitais no processo de ensino e aprendizagem realizada em sala de aula. No entanto, essa superação só ocorrerá através de uma busca constante pela atualização e formação continuada do professor, aliada a uma análise/reflexão crítica e cotidiana da sua própria prática pedagógica.
Segundo Fonseca, é preciso pensar a disciplina de história como
(...) disciplina fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e libertadora. A história tem como papel central a formação da consciência histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva (2003: 89).
O papel de “formadora, emancipadora e libertadora” da disciplina de História, só possuirá eficácia através do trabalho realizado pelo professor em sala de aula e sua interação com os alunos. Por isso a importância do mesmo em buscar uma aproximação com as questões ensinadas e a realidade vivida pelo público escolar. Levar em consideração a diversidade social e cultural existente em cada realidade escolar e adequar as abordagens realizadas em sala de aula a estas realidades, não vai resolver todos os problemas, mas é o primeiro e mais importante passo a ser dado por todos aqueles que acreditam na inclusão e na luta pela democracia social.
Para que isso seja possível,
(...) o professor de história, com sua maneira própria de ser, pensar, agir e ensinar, transforma seu conjunto de complexos saberes em conhecimentos efetivamente ensináveis, faz com que o aluno não apenas compreenda, mas assimile, incorpore e reflita sobre esses ensinamentos de variadas formas. É uma reinvenção permanente (FONSECA, 2003:71).
A atuação pedagógica do educador traz consigo uma gama de significados e simbolismos produzido na sua trajetória de vida. Essas representações irão atuar de forma significativa na vida e na formação do educando, através da relação deste com o educador e seu trabalho.
Nesse contexto, a prática pedagógica do professor de história
(...) ajuda o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias para aprender a pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançando os germes do histórico. Ele é o responsável por ensinar ao aluno como captar e valorizar a diversidade das fontes e dos pontos de vista históricos, levando-o a reconstruir, por adução, o percurso da narrativa histórica. Ao professor cabe ensinar ao aluno como levantar problemas, procurando transformar, em cada aula de história, temas e problemáticas em narrativas históricas (SCHMIDT e CAINELLI, 2004:30).
Assim, a aula de história possibilita a construção do saber histórico através da relação interativa entre educador e educando, transformando essa prática em ato político, no sentido de transformação consciente do fazer histórico. Nesse contexto, salienta-se a importância do professor ser também um pesquisador e produtor do conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já produzidos.
Nesse processo, a didática possui papel relevante no sentido de possibilitar a transformação de um saber histórico em um saber compreensível e atuante para a compreensão do aluno, tornando-o capacitado a não só conhecer o saber histórico, mas também de torná-lo um participante ativo do pensar e do narrar os fatos históricos.
Assim, a didática é elemento fundamental nesse processo de transformação daquilo que se ensina e do significado histórico/social do que se ensina. A história possui significados que precisam ser compreendidos pelos educandos para que haja transformação.
Nesse processo, não podemos esquecer da realidade social, política, econômica e cultural em que vivemos e da realidade encontrada em cada escola e, consequentemente, em cada sala de aula. Torna-se importante salientar que cada aula é única e que a na realidade da sala de aula, possuímos alunos reais, concretos, afetados pelas influências históricas, sociais, políticas, econômicas, culturais, etc., e estas influências atuam sobre seu modo de ser, ver, compreender e atuar no mundo.
Nesse sentido, precisamos conhecer a realidade multifacetada e compreender como as mesmas são produzidas para, a partir dessa compreensão, criar mecanismos que possam ser eficazes e condizentes com a realidade vivenciada por cada professor em sua atuação profissional, pois, é para esses alunos reais que precisamos direcionar nossa prática pedagógica, vislumbrando o processo de inclusão e de emancipação.
Um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. A avaliação, neste contexto, terá de ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida social (LUCKESI, 1984: 46).
No ambiente educacional ingressam alunos de diferentes origens, culturas, níveis de desenvolvimento intelectual e idades. Essas diferenças representam as experiências de vida e conhecimentos adquiridos num meio sócio-cultural distinto para cada aluno. A construção do conhecimento ocorre através da interação do sujeito com a sociedade/grupo em que está inserido. Nesta, cada sujeito participa de uma vivência específica, produzindo com isso, um acúmulo de conhecimentos/saberes também específicos.
As individualidades representam as diferenças culturais que existem em uma determinada sociedade. Não valorizar essas diferenças que cada aluno traz consigo num processo de ensino e aprendizagem seria, no nosso entendimento, um modo de encaminhar os sujeitos para a exclusão.
Como lembra Sant’Ana:
É fundamental ver o aluno como um ser social e político sujeito do seu próprio desenvolvimento. O professor não precisa mudar suas técnicas, seus métodos de trabalho, precisa, isto sim, ver o aluno como alguém capaz de estabelecer uma relação cognitiva e afetiva com o meio circundante, mantendo uma ação interativa capaz de uma transformação libertadora (1995:26).
O ensino de História torna-se fundamental para a compreensão dos fatos históricos e para a sua articulação com a história/realidade presente, uma vez que o presente é fruto da dinâmica dos acontecimentos históricos do passado. Nesse sentido, o ensino de História possui papel relevante na superação da exclusão social, na construção da cidadania e na emancipação social e política dos sujeitos históricos. Em suma, ensinar história é agir em função de metas e objetivos conscientemente perseguidos no interior de um contexto de atuação educacional, permeada pelos desafios cotidianos e pela burocratização do ensino.
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/077/77cerezer.htm. Acessado em: 02/03/2013

ATIVIDADE:

QUESTÃO DISCURSIVA
1 - De acordo com o texto, “a educação não representa um fim em si mesma, mas é e sempre será movida por papéis sociais, ou seja, por funções delegadas pela sociedade em que está inserida”. Elabore um texto mostrando 2 exemplos de papéis sociais ou funções delegadas pela sociedade à escola nos dias atuais (fase contemporânea da história).
2 - Imagine que você encontrou um amigo que não vê há muito tempo. Aproveitaram para colocar o papo em dia e contar as novidades. Você revelou para ele que está cursando uma pós-graduação na área de historia. Sabendo disso ele lhe pede para, por e-mail, explicar melhor qual a importância do ensino da hsitória, pois ele prestará concurso e precisará de melhores esclarecimentos sobre esse assunto. Então, não perca tempo e escreva abaixo um e-mail para seu amigo atendendo o que ele lhe pediu. Ah! Evite utilizar abreviações.
3 – Segundo Fonseca “(...) disciplina fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e libertadora. A história tem como papel central a formação da consciência histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva”. Você concorda com o autor? Justifique sua resposta.
4 - Segundo Durval Muniz, a relação dos historiadores com as memórias é uma relação de violência: “a História é também uma violência que se pratica com as armas dos conceitos, do pensamento, da razão. Por mais bem intencionado que o historiador esteja em relação ao buquê de memórias que tenha coletado, ele terá de deflorá-la para poder gestar a História” (p. 206). Você concorda com o autor? Justifique sua resposta.
5 – Elabore um texto com o tema: "evolução" da educação e "valorização" do professor.

SUGESTÃO DE LEITRUA:


REFERÊNCIAS:
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História. Campinas, SP: Papirus, 2003.
SANT’ANA, I.M. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e Instrumentos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
VASCONCELOS, Iolane. A metodologia enquanto ato político da prática educativa. In: CANDAU, Vera Maria (Org.) Rumo a uma nova didática. 16 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

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