quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CURSO DE HISTÓRIA: 4 AULA - A GLOBALIZAÇÃO E OS IMPASSES DA CONTEMPORANEIDADE




“Por mares nunca dantes navegados/...Em perigos e guerra esforçados, mais do que prometia a força humana/ E entre gente remota edificaram/ Novo reino, que tanto sublimaram” (Luís de Camões -Os Lusíadas, Canto I, 1572)


INTRODUÇÃO:

Mídia e contemporaneidade: globalizações
A navegação na sociabilidade estruturada e ambientada pela mídia permite descobrir e aportar nas fronteiras de expansão do mundo contemporâneo. Uma das facetas mais significativas dessa expansão acelerada do mundo normalmente atende pelo nome de globalização. Desnecessário se alongar na afirmação do imanente enlace existente entre globalização e a explosão das comunicações na atualidade. Hobsbawm, por exemplo, considera que as revoluções dos transportes e das comunicações como essenciais para o movimento de globalização14.
Para iniciar essa outra viagem, cabe, de imediato, distinguir globalização do termo internacionalização. Por óbvio, toda globalização implica internacionalização, mas não se reduz a isso. Manoel Castells, percebendo a novidade da noção, sugere um outro componente vital:
``O novo não é tanto que a economia tenha uma dimensão mundial (pois isto ocorre desde o século XVII), mas que o sistema econômico funcione cotidianamente nesses termos. Neste sentido, assistimos não somente à internacionalização da economia, mas a sua globalização, isto é, a uma interpenetração das atividades produtivas e das economias nacionais em um âmbito mundial'' 15.
Desse modo, soma-se à internacionalidade, própria do espaço planetário, um acontecer cotidiano e, mais do que isso, uma cotidianidade marcada pela possibilidade de simultaneidade e de instantaneidade, de se realizar em tempo real. A mistura desses ingredientes conforma o caráter singular e contemporâneo do processo de globalização.
Apesar de sua utilização generalizante, o termo, em um uso mais rigoroso, deveria acionar sempre um plural: globalizações. Como diversos autores têm observado o processo de globalização, desigual e combinado, afeta de modo distinto as diferentes regiões do planeta e os diversos campos da sociedade contemporânea. José María Gómez16, por exemplo, assinala a capacidade de fragmentação e de exclusão inerente ao processo de globalização, o qual, de modo simultâneo e tenso, integra e exclui, totaliza e fragmenta17. A globalização nessa perspectiva gera situações de intensa desigualdade entre regiões e mesmo no interior de um determinado território. Renato Ortiz18, por outro lado, preocupado com os descompassos existentes nos movimentos diferenciados de globalização presentes nos variados campos sociais, assinala que tais ritmos discrepantes decorrem da natureza dos campos envolvidos, e propõe somente aplicar a noção de globalização às dimensões econômica e técnica do processo, reservando o termo mundialização para a cultura, devido ao significado ocupado pelo lugar nesse horizonte.
As globalizações, no entanto, procedem de modo desigual também quando referidas a um mesmo campo social. Evidentemente funcionam com dinâmicas diferenciadas o processo de globalização do capital financeiro, altamente volátil e fluido, e aquele realizado pelo setor industrial, certamente em ritmo mais lento. Isso para não lembrar, ainda no campo econômico, as substantivas barreiras impostas à migração da mão de obra, que buscam bloquear ou minorar a globalização da força de trabalho19. O sólido muro existente entre os Estados Unidos e o México merece destaque neste aspecto.
As comunicações, enquanto conformadas como conjunto convergente de mídias, instalam-se como instrumento socio-tecnológico viabilizador de parcela significativa das globalizações em curso20. As redes informáticas de informação aparecem como imprescindíveis para as movimentações financeiras de capitais nas bolsas de todo o mundo. Nessa perspectiva, elas estão inseridas no cerne dos processos de globalização mais acelerados.
O mesmo não acontece analisando-se outras angulações possíveis para o processo. Em um recorte mais cultural, quando as comunicações estão intimamente imbricadas com a cultura, o ritmo do movimento tende a se desacelerar ou ser a dificultado por uma série de obstáculos. As culturas das mídias, circuito cultural dominante na contemporaneidade, apesar de sua marca internacional-popular21, que propicia fluxos simbólicos compartilhados por amplos segmentos sociais na sociedade contemporânea, não resultam sempre em uma mera homogeneização, como chegou a se pensar inicialmente, mas podem apresentar como resultado também a emergência de fluxos culturais locais. Mike Featherstone, idealizando essa percepção, chegou a escrever:

``Assim, uma conseqüência paradoxal do processo de globalização, a percepção da finitude e da ausência do planeta e da humanidade, não é produzir homogeneidade, e sim familiarizar-nos com a maior diversidade, com a grande amplitude das culturas locais''22.
A idealização apontada no autor pode ser detectada na assertiva que afirma o caráter de obrigatoriedade da emergência da diversidade das culturas locais, olvidando que ela apresenta-se como possibilidade, que pode ou não se realizar em circunstâncias dadas. A afirmação também desconhece a desigualdade de potência, quase sempre presente, entre os fluxos internacionais-populares, ancorados em robustas indústrias transnacionais de cultura, e os fluxos locais, muitas vezes destituídos de suportes de tal magnitude.
Mas pode-se aceitar que a dinâmica propriamente cultural, quando não totalmente abandonada, em geral interdita uma homogeneização, sem mais, e faz emergir fluxos locais expressivos que marcam a cultura e a comunicação.
A força do lugar, como insiste Milton Santos23, impregna a cultura e transforma o processo de globalização em mundialização, como sugere Renato Ortiz, ou em movimento de glocalização, conforme reivindicam inúmeros autores, pois aos fluxos e estoques internacionais-populares ou globais mesclam-se, em menor ou maior grau, com fluxos e estoques locais, ocasionando a possibilidade de rejeições, assimilações e hibridações24. A glocalização deve ser retida, enfim, como tensão em permanente movimento.
A noção de glocal tenta dar conta desse caráter complexo e tenso. Massimo Canevacci, por exemplo, assim comenta a noção:
``Essa palavra nova, fruto de recíprocas contaminações entre global e local, foi forjada justamente na tentativa de captar a complexidade dos processos atuais. Nela foi incorporado o sentido irrequieto do sincretismo. O sincretismo é glocal. É um território marcado pelas travessias entre correntes opostas e freqüentemente mescladas, com diversas temperaturas, salinidades, cores e sabores. Um território extraterritorial'' 25.


A trajetória desenvolvida até aqui permite intitular mais rigorosamente o processo em estudo utilizando-se o termo glocalizações. Parece sugestivo recorrer a ele também para compreender a dinâmica e as novas fronteiras da política no mundo contemporâneo. Antes disso, no entanto, torna-se necessário um retorno à política com seus impasses e desafios novos provenientes da idade mídia contemporânea.

ATIVIDADE:
A partir da leitura desse artigo: http://pensarorj.blogspot.com.br/2009/04/globalizacao-e-contemporaneidade.html, elabore um texto justificando como a globalização influencia no comportamento da sociedade. No mínimo 2 laudas.

SUGESTÃO DE LEITURA:

SUGESTÃO DE VIDEOS:

REFERÊNCIAS:
ARENDT, Hannab. A condição humana. Rio de Janeiro, Forense, 1981
CHAVI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, Ática, 1996
FURTADO, Celso. Brasil: a construção interrompida. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992
IANNI, Octávio. A sociedade global. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996
________Teorias da globalização. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1995
________ Era do globismo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996
HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1978
LAKATOS, Eva Maria. Introdução à sociologia. São Paulo, Atlas, 1997
RODRIGUEZ GÓMEZ, R. Universidad y globalización en América Latina. Educación Superior y Sociedad, v.6,n z, pp. 143-158, 1995
SANTOS, Jair Ferreira – O que é o pós-moderno. 6. São Paulo, Brasiliense, 1989.

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