“Por mares nunca dantes navegados/...Em perigos e guerra
esforçados, mais do que prometia a força humana/ E entre gente remota
edificaram/ Novo reino, que tanto sublimaram” (Luís de Camões -Os Lusíadas, Canto I, 1572)
INTRODUÇÃO:
Mídia e contemporaneidade: globalizações
A navegação na sociabilidade
estruturada e ambientada pela mídia permite descobrir e aportar nas fronteiras
de expansão do mundo contemporâneo. Uma das facetas mais significativas dessa
expansão acelerada do mundo normalmente atende pelo nome de globalização.
Desnecessário se alongar na afirmação do imanente enlace existente entre
globalização e a explosão das comunicações na atualidade. Hobsbawm, por
exemplo, considera que as revoluções dos transportes e das comunicações como
essenciais para o movimento de globalização14.
Para iniciar essa outra viagem,
cabe, de imediato, distinguir globalização do termo internacionalização. Por
óbvio, toda globalização implica internacionalização, mas não se reduz a isso.
Manoel Castells, percebendo a novidade da noção, sugere um outro componente
vital:
``O novo não é tanto que a
economia tenha uma dimensão mundial (pois isto ocorre desde o século XVII), mas
que o sistema econômico funcione cotidianamente nesses termos. Neste sentido,
assistimos não somente à internacionalização da economia, mas a sua
globalização, isto é, a uma interpenetração das atividades produtivas e das
economias nacionais em um âmbito mundial'' 15.
Desse modo, soma-se à
internacionalidade, própria do espaço planetário, um acontecer cotidiano e,
mais do que isso, uma cotidianidade marcada pela possibilidade de
simultaneidade e de instantaneidade, de se realizar em tempo real. A mistura
desses ingredientes conforma o caráter singular e contemporâneo do processo de
globalização.
Apesar de sua utilização
generalizante, o termo, em um uso mais rigoroso, deveria acionar sempre um
plural: globalizações. Como diversos autores têm observado o processo de
globalização, desigual e combinado, afeta de modo distinto as diferentes
regiões do planeta e os diversos campos da sociedade contemporânea. José María
Gómez16, por exemplo, assinala a capacidade de fragmentação e de exclusão
inerente ao processo de globalização, o qual, de modo simultâneo e tenso,
integra e exclui, totaliza e fragmenta17. A globalização nessa perspectiva gera
situações de intensa desigualdade entre regiões e mesmo no interior de um
determinado território. Renato Ortiz18, por outro lado, preocupado com os
descompassos existentes nos movimentos diferenciados de globalização presentes
nos variados campos sociais, assinala que tais ritmos discrepantes decorrem da
natureza dos campos envolvidos, e propõe somente aplicar a noção de
globalização às dimensões econômica e técnica do processo, reservando o termo mundialização
para a cultura, devido ao significado ocupado pelo lugar nesse horizonte.
As globalizações, no entanto,
procedem de modo desigual também quando referidas a um mesmo campo social.
Evidentemente funcionam com dinâmicas diferenciadas o processo de globalização
do capital financeiro, altamente volátil e fluido, e aquele realizado pelo
setor industrial, certamente em ritmo mais lento. Isso para não lembrar, ainda
no campo econômico, as substantivas barreiras impostas à migração da mão de
obra, que buscam bloquear ou minorar a globalização da força de trabalho19. O
sólido muro existente entre os Estados Unidos e o México merece destaque neste
aspecto.
As comunicações, enquanto
conformadas como conjunto convergente de mídias, instalam-se como instrumento
socio-tecnológico viabilizador de parcela significativa das globalizações em
curso20. As redes informáticas de informação aparecem como imprescindíveis para
as movimentações financeiras de capitais nas bolsas de todo o mundo. Nessa
perspectiva, elas estão inseridas no cerne dos processos de globalização mais
acelerados.
O mesmo não acontece
analisando-se outras angulações possíveis para o processo. Em um recorte mais
cultural, quando as comunicações estão intimamente imbricadas com a cultura, o
ritmo do movimento tende a se desacelerar ou ser a dificultado por uma série de
obstáculos. As culturas das mídias, circuito cultural dominante na
contemporaneidade, apesar de sua marca internacional-popular21, que propicia
fluxos simbólicos compartilhados por amplos segmentos sociais na sociedade
contemporânea, não resultam sempre em uma mera homogeneização, como chegou a se
pensar inicialmente, mas podem apresentar como resultado também a emergência de
fluxos culturais locais. Mike Featherstone, idealizando essa percepção, chegou
a escrever:
``Assim, uma conseqüência
paradoxal do processo de globalização, a percepção da finitude e da ausência do
planeta e da humanidade, não é produzir homogeneidade, e sim familiarizar-nos
com a maior diversidade, com a grande amplitude das culturas locais''22.
A idealização apontada no autor
pode ser detectada na assertiva que afirma o caráter de obrigatoriedade da
emergência da diversidade das culturas locais, olvidando que ela apresenta-se
como possibilidade, que pode ou não se realizar em circunstâncias dadas. A
afirmação também desconhece a desigualdade de potência, quase sempre presente,
entre os fluxos internacionais-populares, ancorados em robustas indústrias
transnacionais de cultura, e os fluxos locais, muitas vezes destituídos de
suportes de tal magnitude.
Mas pode-se aceitar que a
dinâmica propriamente cultural, quando não totalmente abandonada, em geral
interdita uma homogeneização, sem mais, e faz emergir fluxos locais expressivos
que marcam a cultura e a comunicação.
A força do lugar, como insiste
Milton Santos23, impregna a cultura e transforma o processo de globalização em
mundialização, como sugere Renato Ortiz, ou em movimento de glocalização,
conforme reivindicam inúmeros autores, pois aos fluxos e estoques
internacionais-populares ou globais mesclam-se, em menor ou maior grau, com
fluxos e estoques locais, ocasionando a possibilidade de rejeições,
assimilações e hibridações24. A glocalização deve ser retida, enfim, como
tensão em permanente movimento.
A noção de glocal tenta dar conta
desse caráter complexo e tenso. Massimo Canevacci, por exemplo, assim comenta a
noção:
``Essa palavra nova, fruto de
recíprocas contaminações entre global e local, foi forjada justamente na
tentativa de captar a complexidade dos processos atuais. Nela foi incorporado o
sentido irrequieto do sincretismo. O sincretismo é glocal. É um território
marcado pelas travessias entre correntes opostas e freqüentemente mescladas,
com diversas temperaturas, salinidades, cores e sabores. Um território
extraterritorial'' 25.
A trajetória desenvolvida até
aqui permite intitular mais rigorosamente o processo em estudo utilizando-se o
termo glocalizações. Parece sugestivo recorrer a ele também para compreender a
dinâmica e as novas fronteiras da política no mundo contemporâneo. Antes disso,
no entanto, torna-se necessário um retorno à política com seus impasses e
desafios novos provenientes da idade mídia contemporânea.
ATIVIDADE:
A partir da leitura desse artigo:
http://pensarorj.blogspot.com.br/2009/04/globalizacao-e-contemporaneidade.html,
elabore um texto justificando como a globalização influencia no comportamento
da sociedade. No mínimo 2 laudas.
SUGESTÃO
DE LEITURA:
SUGESTÃO DE VIDEOS:
REFERÊNCIAS:
ARENDT, Hannab. A condição humana. Rio de Janeiro,
Forense, 1981
CHAVI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, Ática,
1996
FURTADO, Celso. Brasil: a construção interrompida. Rio
de Janeiro, Paz e Terra, 1992
IANNI, Octávio. A sociedade global. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1996
________Teorias da globalização. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1995
________ Era do globismo. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1996
HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem. Rio de
Janeiro, Zahar, 1978
LAKATOS, Eva Maria. Introdução à sociologia. São Paulo,
Atlas, 1997
RODRIGUEZ GÓMEZ, R. Universidad y globalización en América
Latina. Educación Superior y Sociedad, v.6,n z, pp. 143-158, 1995
SANTOS, Jair Ferreira –
O que é o pós-moderno. 6. São Paulo,
Brasiliense, 1989.
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