INTRODUÇÃO:
LEITURA E ESCRITA
NA ALFABETIZAÇÃO
Terezinha Félix Silva Cruz de DEUS
Professora Especialista
da EDUVALE - Professora da Rede Estadual – SEDUC
e (coordenadora pedagógica)
ASPECTOS TEÓRICOS
A importância da
leitura na vida do ser humano se nos afigura ponto pacífico , principalmente
para quem está envolvido no processo ensino-aprendizagem.
Com o objetivo de
estimular a reflexão sobre essa atividade enriquecedora, mencionaremos aqui
dois pontos de vistas de diferentes autoras, sobre o que é ler.
Segundo Mary E.
Pannell “ a leitura habilita a criança
a ver, conhecer e reviver experiências de todos os tipos. Sendo dirigida por
normas seguras, oferece rico cabedal de informações, concorre para a ampliação
de interesses, prevê a satisfação de necessidades pessoais, alarga o círculo de
simpatias, dá maior compreensão da vida e concorre para a formação de idéias
que contribuem para o progresso individual e social. Em suma a leitura dá a
criança a faculdade de viver uma vida mais rica, mais dilatada e mais
completa”.
Para Iselda
Terezinha “ ler é um processo de reconhecimento de palavras em termos de
identificar seus correspondentes e estabelecer relações entre o significado ,
de domínio do alfabeto para saber distribuí-lo de modo a formar palavras,
frases, textos”.
A verdadeira
leitura é a interação com o texto , é dialogar com o autor. É a busca de sentido no que
literalmente está escrito e nas lacunas que necessariamente ficam dadas as
experiências do autor e do leitor. É algo dinâmico na medida em que o autor
pode ter desejado dizer alguma coisa e o leitor pode captar outros aspectos.
Esta dinâmica também se revela com relação ao leitor que pode, a cada interação
com o texto, construir novos sentidos, ou seja, fazer novas leituras, descobrir
outras idéias. Num sentido amplo, portanto “... ler é interpretar, é construir
e reconstruir idéias a partir da
interação de qualquer objeto com o
conhecimento . Objeto este expresso através de diferentes veículos e ou
linguagem”
A escola, sendo a
entidade que tem a incumbência de ensinar a ler, vem definindo a leitura de
modo bastante estático e mecânico. Confunde o processo de ler em um simples
reconhecimento de palavras em páginas impressas. Existe uma nítida separação entre o mecanismo leitura e o pensamento, reduzindo a
leitura a um ato mecânico de decifrar letras.
É comum a criança
ler um texto, podendo –se dizer até que de maneira correta ( pronúncia,
pontuação....) mas se for solicitada
para contar ou falar sobre o texto não
sabe. Na verdade esta criança não leu, pois ler não é decodificar, como num jogo de adivinhações,
o sentido de um texto.
O papel da escola
por muito tempo foi de fazer com que o aluno adapte a escola - esta é a
essência adaptativa da escola, enquanto que a escola deveria levar o aluno a
uma transformação .
Frente a essa
realidade há uma forma de linguagem, se na escola enquanto adaptativa, a
linguagem será um objeto fixo. E a leitura como uma resposta memorizada.
Enquanto que na
visão de transformação a linguagem é uma interação através da prática social.
Dessa forma para
tornar viável a leitura como um processo de relação entre o domínio da mecânica
e o pensamento, é absolutamente necessário recorrer ao método natural, trazendo
a vida da criança para dentro da escola. É preciso repensar o que se está
oferecendo à criança , selecionando palavras, frases, textos, histórias que
permitam a criança inúmeras experiências , como falar, observar, experimentar,
registrar e, principalmente, ver com intensidade e satisfação. É bom lembrar
que os primeiros contatos com a leitura são fundamentais para a formação de um
bom leitor. Se a leitura for apresentada sob uma forma lúdica, agradável e
significativa , assim estará proporcionando o nascimento de um bom e verdadeiro
leitor. Ao passo que se a leitura for apresentada e isolada da realidade, não
criará hábito de ler, pelo contrário afasta a criança da leitura, pois todo
livro lhe trará recordações das experiências negativas que os livros didáticos
lhe forneceram.
Para modificar esta situação é necessário que
a escola redefina o conceito de leitura. O passo inicial, talvez seja o de
retirar as cartilhas pré-fabricadas das salas de aula e colocar a criança em
contato com bons livros (literatura infantil) ,
mesmo ainda não sabendo ler. “A criança deve descobrir o prazer pela
leitura antes de aprender a ler. Ela precisa querer, sentir a necessidade de
decifrar o meio através da leitura”.
Então podemos iniciar o processo de
aprendizagem da criança. A leitura e a escrita devem ser encaradas como uma
Segunda etapa da aquisição da linguagem e devem dar oportunidade à criança de
manifestar a necessidade de mais uma via de compreensão e expressão de suas idéias, pelo
desenvolvimento do pensamento e do vocabulário.
Muitos educadores e, principalmente Piaget,
alertam sobre a importância da observação na evolução do pensamento infantil. A
criança passa por etapas bastantes definidas , sendo assim devem refletir sobre
todas atitudes e atividades da criança, principalmente quando se diz respeito a
leitura, que também passa por fases que devem ser observadas antes de
pretendermos exigir da criança uma leitura que esteja além ou aquém de suas capacidades.
Mencionaremos aqui , rapidamente, as fazes e a literatura indicada.
Primeira fase: vai até aos 3
anos. É o início do reconhecimento da realidade pelo tato. Descoberta de si
mesmo e dos outros pela necessidade de contatos afetivos. Para esta fase a
literatura indicada s~]ao os livros com muita gravura, pouco texto ou mesmo
ausência deste. É importante que a criança “ leia” as gravuras.
Segunda fase: vai dos 3 aos 6
anos, e é mais conhecida com a fase da fantasia e imaginação. Esta faixa
etária, se caracteriza pelo pensamento pré-conceitual dos objetos. A literatura
indicada são livros com muitas imagens, complementadas com textos curtos e
educativos. As palavras devem corresponder as figuras. Os livros devem abordar
situações familiares, contos de animais , contos de faz-de-conta, contos de um
mundo animado de poderes fora do comum.
Terceira fase: Vai dos 6 aos 8 anos, caracteriza-se pelo pensamento
racional e socialização. É o processo alfabetização. Na literatura adequada a
essa fase a imaginação e a realidade devem se fundir. Os livros devem abordar
ações e atos que desenvolvam situações de aventura, onde a inteligência e a
afetividade sejam os fatores dinamizadores. Histórias alegres, que realcem
astúcia , questionamento de valor ultrapassados.
Falaremos apenas das 3ª fase pois é a que nos interessa neste estudo,
por tratarmos sobre a questão da leitura na alfabetização.
COMO ENSINAR A LER
ALGUMAS SUGESTÕES PARA A ALFABETIZAÇÃO
A criança desde muito pequena, aprende a
reconhecer com facilidade nome de pessoas, animais, objeto de seu ambiente
familiar, isto é, reconhece substantivos. Um procedimento natural será o de
iniciar o processo da leitura com estes substantivos envolvidos em idéias
conhecidas, significativas, concretizáveis, permitindo sua exploração através
dos sentidos – ver – ouvir – falar – tocar – cheirar – experimentar.
Nos primeiros anos
de escolaridade da criança, o professor deve insistir, pelo menos, em dois
aspectos, o treino e a formação de hábitos concretos de leitura. Por esse
motivo, o que tivermos à disposição, deve ser aproveitado para incentivar a
criança ler.
· Avisos e ordens, que comumente
são expressos em voz alta, podem ser escritos.
· Saudações, reforços, perguntas
que podem ser escritas em cartazes ou também no quadro de giz.
· A criança identifica tudo o que há na
sala de aula. Nomeia-as.
· O professor, após
identificação, explica que todos estes nomes podem ser escritos e lidos.
· Junto às crianças, escreve
em fichas o nome das “coisas” que citaram. Exemplo: escreve lentamente a
palavra porta. Lê a palavra e diz para as crianças indicando a porta: “isto é
uma porta. E aqui lemos a palavra porta. Vamos colocar na porta?”. Faz o mesmo
com outras palavras.
· Colocar os nomes das
crianças na classe ou no lugar de guardar o material. As crianças “se desenham”
e o professor escreve o nome delas e os distribui de maneira que elas já
comecem algumas relações como “meu nome começa que nem o da Tatiane”.
Para facilitar o acesso da criança ao livro, o professor deve:
· Organizar um
cantinho de leitura na sala de aula com gravuras e pequenos textos. Estimular
para que a criança o freqüente, deixando-o manipular o material. O professor lê
história no “canto” mostrando a ilustração e permitindo-lhe comentários,
perguntas e complementações.
· Motivar e
criar espaços para a criança narrar fatos do cotidiano e registrar (o
professor). Posteriormente o professor lê a “história” da criança.
· Dramatizar cenas.
· Modelar,
recortar ou desenhar os personagens da história.
· Visitar a
biblioteca.
· Escrever o
que a criança diz de seus desenhos (estes, inclusive, podem servir como um
recurso para a criança ler depois que já domina o mecanismo da leitura, podendo
reescrever o que disse).
A criança deve
ser motivada a ler. Para que ela não perca o interesse, é preciso variar as
estratégias apresentando a leitura de diferentes formas para evitar a
memorização.
Estas são
apenas algumas sugestões as quais deverão ser desdobradas sob muitas outras
formas, como já foi salientado, o importante é que a criança leia muito, treine
o mecanismo da leitura, sem, no entanto, separar o mecanismo da interpretação e
compreensão do que se está lendo.
ESCRITA
A escrita deve surgir do interesse
e curiosidade da criança. E esta se manifesta pelo desejo que a criança tem de
descobrir, reconhecer e a utilizar os sinais gráficos com que constantemente se
depara. Inicialmente, surge a necessidade de decifrar o meio e de se apropriar
dos símbolos (palavras – sinais – frases) e, posteriormente, quer utilizar
deles reproduzindo-os.
É importante que a
criança saiba qual é o objetivo da escrita – “por que escrevemos?” A escrita é
um sistema convencional utilizado pelo homem com a finalidade de se comunicar
entre si, registrar suas descobertas, suas histórias e suas idéias e
pensamentos. É um meio de expressão e conservação de idéias e pensamentos. E é
assim que deve ser encarada. A escrita só tem valor educativo quando a criança
já souber o que está escrevendo.
Muitos pais e
professores apressam-se em ensinar a escrita sem se preocupar se realmente
aquilo que a criança escreveu foi dominado e compreendido por ela. Educadores
querem ver um caderno bonito, com bastantes coisas escritas. E, quando a
criança não consegue fazer “aquela” tão almejada letra bonita (o que é muito
natural que aconteça, quando a criança não está madura para esta atividade)
apressam-se em apresentar-lhe o famoso caderno de caligrafia, onde a saturam,
obrigando-a a preencher linhas com palavras vazias de significado e isoladas do
processo.
COMPOSIÇÃO CRIADORA
Nas séries iniciais, o
professor deve estar preocupado em preparar a criança para desenvolver a
habilidade de leitura e redação que é a construção de pensamento oral ou
escrita. E assim a criança estará desenvolvendo a habilidade de pensar com
lógica, objetividade e clareza.
A composição
escrita na alfabetização deve levar a criança a sentir necessidade de expressar
seu pensamento espontaneamente como o faz na sua vida diária. Assim antes mesmo
da criança dominara escrita, pode ser iniciada na composição. Para tanto, o
professor proverá atividades que levem a criança a desejar ver expresso seu
pensamento por escrito. Num primeiro momento o professor escreverá o que o
aluno ditou e finalmente lerá o que foi escrito. Na segunda fase a criança
estará lendo e copiando, numa terceira fase a criança fará suas próprias composições.
Segundo Eglê
Franche a “técnica de redigir deve se iniciar na alfabetização, partindo das
experiências dos alunos”. A criança ao entrar para a escola,traz consigo uma
bagagem cultural e vivêncial consolidadas em seu meio, que na realidade é
desprestigiada e “podadas asas” de sua criatividade, que normalmente acontece
nas aulas de comunicação e expressão especialmente nas de redação, em que são
propostos temas ou títulos distantes da realidade do aluno.
Um procedimento comum
nas salas de aulas é fazer com que os alunos só escrevam palavras “já
dominadas”, isto é, cuja forma ortográfica se supõe que eles conheçam. Isso faz
com que grande parte dos alunos, ao escreverem, quase não cometam erros
ortográficos (quando erram é, em geral por distração). Entretanto, isso faz
também com que os alunos não possam se exprimir livremente, tendo de escrever
frases e até histórias usando apenas palavras já dominadas.
Diante disso,
surgem aquelas redações que nada mais são que um conjunto de frases desconexas,
às vezes até um número de linhas pré-fixadas pela professora. Salva-se a
ortografia das palavras, mas passa-se ao aluno a terrível idéia de que escrever
é simplesmente combinar palavras cuja ortografia se conhece. O texto como
expressão lingüística do pensamento fica assim deturpado ao se aprender a
escrever. Reforçam essa idéia os textos das cartilhas que também são elaboradas
com palavras já estudadas antes. Dessa forma revela um método mecanicista de
aprendizagem que dispensa a reflexão do aluno e inibe a curiosidade e a procura
da novidade ao tratar a escrita.
Uma outra
estratégia de ensino, e muito melhor é admitir que os alunos, no início, sabem
falar, muito bem, sua língua e a usam
com propriedade, e que, portanto, tal capacidade, pode e deve ser transportada
diretamente para a escrita. Aconteceu, porém, que isso esbarra numa dificuldade
que é a forma ortográfica imprevisível de muitas palavras que os alunos nunca
estudou. Contudo, se os alunos, após os primeiros contatos com o alfabeto e com
algumas famílias de letras e a escrita de umas poucas palavras forem
estimulados a escrever suas histórias espontaneamente, guiados pela semântica,
pelo enredo e tentando escrever as palavras que precisa segundo as
possibilidades de uso das palavras ou letras no sistema ortográfico da língua,
certamente irão cometer erros de ortografia, mas passarão suas habilidades
falantes aos textos escritos. Obviamente se pedirá também que cuidem da
ortografia mas que não se amedrontem ao escrever se não souberem, porque é
possível escrever português, por exemplo, sem ser na forma ortográfica.
Esses alunos vão
perceber logo que a ortografia é algo diferente do simples ato de escrever
palavras do português e que pára se sair bem ou se sabe como escrever
ortograficamente uma palavra, ou se pergunta.
Cada tentativa pode produzir escrita, mas não necessariamente a forma
ortográfica. Esses procedimentos ajuda a auto-correção dos alunos, estimula a
curiosidade pelas formas ortográficas sem trazer frustrações e faz com que os
alunos expressem por escrito textos, linguístico e literariamente perfeitos.
CONCLUSÃO
A iniciativa do professor no
sentido de variar as estratégias para a obtenção de recursos para ampliação dos
conhecimentos trazidos pelas crianças é de suma importância, pois esse trabalho
de leitura e escrita na alfabetização não é fácil, ao passo que trabalhamos com
crianças oriundas de realidades diferentes. Mas é um trabalho gratificante.
O ensino da leitura e
da escrita, embora tendo sido trabalhado separadamente neste trabalho, é
realizado simultaneamente. Não há como separar a leitura da escrita na
aprendizagem.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FEIL, Iselda
Teresinha Sausem. Alfabetização: um desafio novo para um novo tempo. 8ª ed.
Vozes, Petrópolis.
FRANCHI, Egle. E as crianças eram difíceis: a redação na
escola. São Paulo, Martins Fontes. 1985.
MARCOZZI, Alayde
Madeira & DORNELLES, Leny Werneck,
Ensinando a criança. Livro técnico. Rio de Janeiro. 1985.
PENNELL, Mary E. Como se ensina a Leitura. Porto Alegre,
Mercado Aberto. 1986.
SILVA,Ezequiel T. Leitura & realidade Brasileira.Porto Alegre, Mercado
aberto.1986.
------De olhos
abertos. Reflexão sobre o
desenvolvimento da Leitura no Brasil. São Paulo, Atica. 1991.
NOVA ESCOLA, São
Paulo. Abril.
ATIVIDADE:
Preparar uma aula
para classe de alfabetização que envolva leitura e escrita.
O planejamento deve
contemplar:
·
Quais os recursos didáticos utilizados
·
Metodologia/aplicação – Justifique a escola do método.
·
Que os objetivos da aula sejam claro e estejam
de acordo com a idade/serie
·
Instrumentos avaliativos
·
Criatividade
·
Originalidade
SUGESTÃO DE LEITURA:
SUGESTÃO DE LEITURA:
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